O impacto emocional do paciente no tromboembolismo venoso
The emotional impact on patients of venous thromboembolism
Alcides José Araújo Ribeiro; Marcos Arêas Marques
A comunicação do diagnóstico de certas doenças, como o tromboembolismo venoso (TEV), pode ser um grande desafio. Com o advento da pandemia causada pela covid-19 e a divulgação da sua associação com TEV e morte, o medo e a apreensão dos pacientes com a palavra “trombose” aumentaram muito. Existe uma certa incompatibilidade entre os objetivos do médico e as necessidades e os anseios do paciente vítima de TEV. Em geral, dedica-se pouca atenção às questões emocionais, e estas afloram substancialmente ao informar um paciente e sua família sobre esse diagnóstico
Os impactos psicológicos e emocionais nesses pacientes raramente são avaliados nos estudos relativos ao TEV. Feehan et al.
Um estudo canadense levantou sete temas maiores relacionados à experiência do paciente com TEV: o impacto agudo (choque inicial e sintomas físicos), o sofrimento psicológico persistente (medo de recorrência e morte), a perda de si mesmo (mudanças de hábitos e tomada de decisões para o futuro), os desafios no tratamento do TEV (anticoagulação e meias de compressão elástica), o equilíbrio nas mudanças de vida, a experiência negativa com o sistema de saúde (atrasos e erros diagnósticos) e o TEV no contexto de outras doenças
A linguagem alarmista e as metáforas médicas mal colocadas foram identificadas como fontes de ansiedade neste contexto. Artigos relatam frases selecionadas pelos pacientes como altamente prejudiciais, como: “já vi pacientes morrerem com o que você tem”, “você poderia ter morrido se não tivéssemos feito este diagnóstico hoje” e “você é uma bomba-relógio ambulante”
Os médicos podem contribuir para o sofrimento psicológico pós-trombose, mas podem e devem atuar no sentido de reconhecer e atenuar essas manifestações através de várias ações, como: a avaliação precoce por um médico especialista, a escuta ativa do paciente, a abordagem de suas preocupações, o fornecimento de informações impressas e on-line sobre a doença e a orientação sobre grupos de apoio, sites confiáveis e palavras chaves específicas para pesquisa na internet, além de uso de recursos didáticos como modelos anatômicos, por exemplo
O impacto psicossocial do TEV pode ser muito traumático e mudar a vida do paciente; portanto, urge a necessidade de disponibilizar diretrizes baseadas em evidências específicas para o manejo dessas sequelas emocionais, bem como a criação de programas de educação médica continuada neste tópico. Com reconhecimento, empenho e empatia, podemos melhorar a experiência e a recuperação integral dos pacientes vítimas do TEV.
E fica o questionamento: “Eu comunico o caso de trombose venosa do meu paciente da maneira ideal?”.
Referências
1 Goldhaber SZ. Emotional and psychological coping after venous thromboembolism. Thromb Haemost. 2009;102(6):1007-8.
2 Feehan M, Walsh M, van Duker H, et al. Prevalence and correlates of bleeding and emotional harms in a national US sample of patients with venous thromboembolism: a cross-sectional structural equation model. Thromb Res. 2018;172:181-7.
3 Højen AA, Dreyer PS, Lane DA, Larsen TB, Sorensen EE. Adolescents’ and young adults’ lived experiences following venous thromboembolism: “it will always lie in wait. Nurs Res. 2016;65(6):455-64.
4 Genge L, Krala A, Tritschler T, et al. Evaluation of patients’ experience and related qualitative outcomes in venous thromboembolism: a scoping review. J Thromb Haemost. 2022;20(10):2323-41.
5 Hernandez‐Nino J, Thomas M, Alexander AB, Ott MA, Kline JA. Communication at diagnosis of venous thromboembolism: lasting impact of verbal and nonverbal provider communication on patients. Res Pract Thromb Haemost. 2022;6(1):e12647.
6 Hunter R, Lewis S, Noble S, Rance J, Bennett PD. “Post‐thrombotic panic syndrome”: a thematic analysis of the experience of venous thromboembolism. Br J Health Psychol. 2017;22(1):8-25.
7 de Wit K. Do physicians contribute to psychological distress after venous thrombosis? Res Pract Thromb Haemost. 2022;6(1):e12651.
Submetido em:
23/11/2022
Aceito em:
08/12/2022