Epidemiologia das oclusões arteriais agudas dos membros inferiores em um hospital universitário: estudo retrospectivo de 95 pacientes
Rafael Pasini del Claro
Resumo
INTRODUÇÃO: A oclusão arterial aguda dos membros inferiores apresenta etiologia embólica, em sua maior parte oriunda do coração, e trombótica nos pacientes portadores de doença arterial obstrutiva periférica. Constitui-se em condição clínica comum e que está crescendo em freqüência pelo aumento de idade da população e incidência de doença cardiovascular de natureza aterosclerótica. Manifesta-se por dor súbita de forte intensidade, parestesia, paralisia, frialdade e palidez da extremidade acometida, além da ausência ou diminuição de pulsos distais ao ponto de oclusão. Apresenta morbidade e mortalidade consideráveis.
OBJETIVOS: Avaliar a epidemiologia das oclusões arteriais agudas dos membros inferiores registrando a incidência quanto ao sexo e idade, fatores etiológicos, relação com hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito, tabagismo e localização anatômica das oclusões. Também foram estudados o tempo de oclusão, o tratamento instituído e a realização de fasciotomia.
MÉTODOS: O presente estudo foi realizado no Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba no período compreendido entre janeiro de 2000 e abril de 2005. Foram analisados os prontuários de 95 pacientes com oclusão arterial aguda dos membros inferiores, excluindo-se os casos relacionados ao trauma.
RESULTADOS: Do total de pacientes, 54,7% eram do sexo masculino, e a idade média foi de 61,9 anos. A etiologia trombótica ocorreu em 49,5% dos pacientes; a embólica, em 40%; e a indeterminada, em 10,5%. Dos antecedentes mórbidos pessoais, a hipertensão arterial sistêmica esteve presente em 55,8% dos pacientes; o diabetes melito, em 26,3%; e 44,2% reconheciam o vício do tabagismo. A hipertensão arterial sistêmica, o diabetes melitoe o tabagismo ocorreram na mesma proporção nos doentes com oclusão arterial aguda de etiologia embólica e trombótica. A hipertensão arterial sistêmica, o diabetes melito e o tabagismo apresentaram maior incidência nesses doentes quando comparados aos doentes com etiologia indeterminada. O território aorto-ilíaco foi acometido em 42,1% dos casos; o território fêmoro-poplíteo, em 51,6%; e o território poplíteo-tibial, em 6,3%. O tempo médio de oclusão foi de 6,8 dias. Todos os pacientes foram submetidos à tromboembolectomia; em 11 deles (11,6%), foram realizados outros procedimentos no mesmo ato cirúrgico, na tentativa de reversão da isquemia e salvamento do membro (uma ponte aortobifemoral, uma ponte fêmoro-distal, quatro pontes fêmoro-femorais cruzadas, quatro pontes fêmoro-poplíteas proximais e uma simpatectomia lombar). A fasciotomia foi necessária em 8,4% dos pacientes.
CONCLUSÃO: A incidência foi semelhante entre os sexos, e houve predomínio acima dos 50 anos de idade. Observou-se que a etiologia embólica e trombótica ocorreu na mesma proporção, que a maioria dos pacientes era portadora de hipertensão arterial sistêmica e que a localização anatômica das oclusões mais freqüente foi o território fêmoro-poplíteo.