Classificação dos periódicos no Sistema QUALIS da CAPES — a mudança dos critérios é URGENTE!
A Associação Médica Brasileira (AMB) preocupada com o futuro das publicações científicas brasileiras, depois da divulgação dos novos critérios QUALIS da CAPES, organizou uma série de encontros em sua sede em São Paulo. Os Editores das principais revistas médicas do país, diretores da ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos) e os coordenadores das áreas de Medicina II e Medicina III da CAPES trocaram informações e, acima de tudo, elaboraram propostas para aprimorar o processo de avaliação dos periódicos científicos brasileiros pelo novo sistema QUALIS da CAPES. A produção científica classificada pelo QUALIS constituirá um dos itens principais da avaliação dos programas de pós-graduação no último triênio. Considerando que a principal fonte de artigos científicos para as revistas brasileiras são provenientes dos programas de pós-graduação vinculados à CAPES, era muito importante afinar o discurso e garantir uma linguagem comum para todas as partes envolvidas. Do lado dos Editores há receio de que os novos critérios da CAPES possam criar uma subclasse de periódicos baseado exclusivamente no Fator de Impacto ISI. O critério anterior indicava, como ponto de corte, fator de impacto igual a 1. Recentemente, algumas revistas brasileiras conseguiram, com enormes esforços, atingir este patamar. Entretanto, os novos critérios além de considerarem apenas o fator de impacto, estabeleceram pontos de corte bem mais elevados. Adotando-se esta medida, as revistas brasileiras passariam a ser preteridas pelos orientadores e alunos de pós-graduação - os grandes produtores da ciência brasileira - criando-se assim um círculo vicioso ao qual seria difícil a sobrevivência dos nossos periódicos.
Pelo lado da CAPES, falou o Professor João Pereira Leite, que além de coordenador da área de Medicina II, é também o atual representante da área de saúde no CTC - Conselho Técnico Científico - órgão máximo da CAPES. Este, durante uma de nossas reuniões, fez detalhada explanação sobre os critérios adotados nos triênios anteriores e o impacto dos mesmos sobre os Programas de pós-graduação do Brasil. Explicou ainda que, frente à evidente melhoria do nível dos programas era preciso elevar o ponto de corte ou de separação para melhor discriminá-los e estratificá-los qualitativamente. A partir dos dados provenientes dos programas - colhidos pelo sistema coleta CAPES - foi observado que muitos tinham mais de 50% - alguns mais de 80% - de sua produção científica publicada em periódicos dos estratos mais elevados. A CAPES por sua vez decidiu pela criação de um número maior de estratos para poder reclassificar os periódicos. Foi proposta uma escala decrescente segundo o valor do fator de impacto: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Além disso, criou um fator de equivalência segundo o qual, a soma de publicações em revistas de estratos inferiores seria equivalente a um número menor de publicações dos estratos superiores. Assim, por exemplo, para uma determinada área, 2 artigos B1 equivaleriam a 1,2 artigo A1; 1 artigo B1 + 1 artigo A2 equivaleriam a 1,4 artigo A1; 3 artigos B2 equivalem a 1,2 A1. Segundo o professor João Leite "Essa equivalência beneficiaria as revistas com diferentes níveis de qualificação". O professor Leite informou ainda que a nova classificação foi elaborada com base na mediana do fator de impacto das revistas, obtidas junto ao Journal Citation Reports (JCR) e calculados anualmente pelo ISI Web of Knowledge. Para o cálculo da mediana foi elaborada uma lista das revistas em que cada área da CAPES publica. De posse desta lista, bem como dos respectivos fatores de impacto, foi calculada a mediana para cada área e construída a nova estratificação que varia entre A1, A2, B1 até B5 e C.
Os Editores contrargumentaram o professor Leite lembrando que a característica trienal do processo de avaliação CAPES conferiria um relativo descompasso para a reclassificação dos periódicos, a saber: várias revistas brasileiras terão seu fator de impacto aumentado ou publicado pela primeira vez ao longo de 2010, em especial as que acabaram de entrar para o ISI. Além disso, teriam que esperar três anos para mudar de categoria dentro do novo QUALIS! Outro questionamento dos Editores diz respeito à escolha do fator de impacto publicado pelo Journal Citation Reports (JCR) como ÚNICO e universal índice para aferição da qualidade dos periódicos. É grande o desvio padrão dos valores dos fatores de impacto das revistas. Certamente por isso a CAPES utilizou a mediana destes índices para analisar o comportamento da produção dos Programas de pós-graduação. De fato, segundo este critério, algumas especialidades médicas como as cirúrgicas, têm suas melhores revistas com fator de impacto mais baixo, o que poderia implicar num viés que lhes seria extremamente desfavorável.
Os dois lados concordaram que a valorização dos periódicos brasileiros é importante para o crescimento e desenvolvimento científico nacional. Para garantir e estimular este círculo virtuoso é preciso, entre outros, estimular e fomentar a citação de artigos de autores nacionais, intensificar os esforços de Editores, revisores e autores dos periódicos para aumentar a qualidade dos artigos e, por outro lado, obter maior apoio dos órgãos governamentais, principalmente da CAPES e do CNPq, no que diz respeito, respectivamente, a administração de recursos financeiros e a estratificação qualitativa.
Os resultados destas discussões foram apresentados em diversos encontros de Editores, coordenadores de Programas de pós-graduação e pesquisadores sendo complementados por novas sugestões. Que estas ideias, abaixo descritas, sirvam de conclusão para este editorial e que representem, ao mesmo tempo, uma ferramenta importante para a mudança dos critérios de classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES por parte dos organismos responsáveis. As propostas são as seguintes:
A análise qualitativa dos periódicos brasileiros deve ser reavaliada e não envolver somente o Fator de Impacto publicado pelo Journal Citation Reports (JCR);
Devem ser consideradas e respeitadas as particularidades de cada área de interesse ou de cada especialidade;
O parque editorial brasileiro, diferente do restante do mundo que é mantido basicamente pela iniciativa privada, é mantido à custa de Universidades públicas e privadas e associações científicas de classe;
Os periódicos brasileiros necessitam de maior apoio e incentivo, que poderão vir na forma de: Bolsa para Editores, apoio financeiro à publicação, maior visibilidade para os periódicos nacionais no exterior, critérios mais objetivos e abrangentes para classificação qualitativa, e apoio diferenciado e correspondente ao desempenho de cada revista;
Apoio à internacionalização dos periódicos científicos por meio de suporte para profissionalização do processo editorial e divulgação das revistas em outros países;
Atualização contínua da classificação dos periódicos junto ao novo QUALIS sem precisar esperar pelo prazo da avaliação trienal;
Participação de representantes de classe (ABEC, AMB, entre outros) no processo decisório junto ao sistema QUALIS da CAPES;
Estímulo vigoroso à citação diretamente na fonte que são os programas de pós-graduação (por exemplo, determinando que Programas de PG notas 6 e 7, além de deverem obrigatoriamente ter uma porcentagem de publicações em revista de alto impacto, devam ter também cotas percentuais de publicações em periódicos nacionais. Com isto estarão contemplados os dois extremos da produção científica pois os jovens e futuros pesquisadores iniciam sua carreira publicando em periódicos nacionais sob orientação de pesquisadores experientes.
Por fim, para corroborar todas estas ações e preocupada com o desenrolar das repercussões do novo QUALIS da CAPES e outras avaliações de periódicos, a ABEC (Associação Brasileira dos Editores Científicos) dedicou em seu último Encontro Nacional de Editores Científicos, realizado em novembro de 2009, três dias ao Fórum de áreas. Neste, representantes da CAPES e Editores de todas as áreas do conhecimento científico discutiram longamente o assunto e ao final propuseram as Diretrizes do Fórum de Áreas do XII Encontro Nacional dos Editores Científicos - 2009, que será oportunamente enviado a todas as agências brasileiras de fomento, e que deverá ocorrer periodicamente, pois, o processo é contínuo.
Professor João Pereira Leite spoke on behalf of CAPES. In addition to being the coordinator of the area Medicine II, he is also the current representative of the health area in the Technical Scientific Council, which is the main department of CAPES. During one of the meetings, professor Leite provided a detailed explanation about the criteria adopted for three-year evaluation and their impact on Brazilian graduate programs. He also explained that, in face of the evident improvement of the quality of graduate programs, it was necessary to increase the cutoff point or the separation point in order to better differentiate these programs and classify them in terms of their quality level. Based on data from the graduate programs – collected using the data collection system of CAPES – it was found that many programs had more than 50% (some of them even had 80%) of their scientific production published in journals classified at higher levels of the classification scale. On its turn, CAPES decided to create a larger number of levels with the purpose of reclassifying the Brazilian journals. A decreasing scale based on the impact factor has been suggested: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, and C. In addition, CAPES also created an equivalence factor according to which the number of articles published in journals belonging to the lower levels of the scale would be equivalent to a smaller number of articles published in journals belonging to the higher levels of the classification scale. Therefore, for example, for a certain area, 2 articles B1 would be equivalent to 1.2 article A1; 1 article B1 + 1 article A2 would be equivalent to 1.4 article A1; 3 articles B2 would be equivalent to 1.2 article A1. According to professor Leite: "Such equivalence would bring benefits for journals with different qualification levels."Professor Leite also informed that the new classification system was designed based on the median of the journals' impact factor provided by the Journal Citation Reports (JCR) and calculated every year by the ISI Web of Knowledge. A list of journals including each area of CAPES was made to calculate the median. The median for each area was based on this list and on the respective impact factors; then, a new classification system ranging from A1 to C was created.
The editors reminded professor Leite that the three-year evaluation process of CAPES would cause a relative disagreement for the reclassification of the journals, since several Brazilian journals will have their impact factor increased or published for the first time during 2010, mainly those that have just been indexed in the ISI. In addition, these journals would have to wait for three years to change their classification in the new QUALIS! Another aspect that was questioned by the editors is related to the choice of the impact factor published by the JCR as the ONLY and universal index to assess the quality of the journals. There is a high standard deviation in the impact factors of different journals. Certainly, that is the reason why CAPES used the median of these indexes to analyze the scientific production of graduate programs. Actually, according to this criterion, some medical specialties, such as those related to surgery, have their best journals with a lower impact factor, which might result in a bias that could be extremely unfavorable for them.
Both the editors and CAPES agree that valuing the Brazilian journals is important for the Brazilian scientific growth and development. With the purpose of keeping and stimulating this virtuous cycle, it is necessary to promote and foster the citation of articles published by Brazilian authors, intensify the efforts of editors, reviewers and authors to increase the quality of the articles and, on the other hand, make sure that the governmental agencies, especially CAPES and CNPq, provide support for the management of the financial resources and qualitative classification of the journals.
The results of these discussions were presented in several meetings attended by editors, coordinators of graduate programs and researchers, and new suggestions were made. The ideas described below will be used as the conclusion of this editorial and, at the same time, we hope that they serve as an important tool to convince the agencies to change the criteria of journal classification in the QUALIS system of CAPES. Our suggestions are as follows:
The qualitative analysis of the Brazilian journals should be reassessed and it should not include only the Impact Factor published by the JCR;
The specific characteristics of each area of interest or each specialty should be taken into consideration and respected;
The Brazilian publishing industry, in contrast with what happens in other countries where it is financed by private investors, is financially supported by public and private universities and scientific associations;
Brazilian journals need to receive more support and stimuli, which may be provided as: financial remuneration for editors, financial support for journals, greater visibility for national journals abroad, more objective and encompassing criteria for the qualitative classification, and support based on the performance of each journal;
Support for the internationalization of scientific journals by fostering the professionalization of the editorial process and promotion of the journals in other countries;
Continuous update of the journal classification system within the new QUALIS with no need to wait for the three-year period of assessment;
Participation of scientific associations (ABEC, AMB, among others) in the decision-making process regarding the QUALIS system of CAPES;
Strong stimulation of citations directly in the source of scientific production, that is, graduate programs (for instance, recommending that graduate programs classified as 6 or 7, in addition to being required to have a percentage of articles published in journals with high impact factor, should also have a percentage of articles published in Brazilian journals. This measure includes both ends of the scientific production, since young and future researchers begin their careers publishing in national journals under the supervision of experienced researchers.
In conclusion, to show its agreement with all these measures and its concern with the consequences of the new QUALIS of CAPES and other evaluation procedures of journals, ABEC devoted three days to the forum of the areas during its last National Meeting of Scientific Editors, which was held in November 2009. During this meeting, members of the staff of CAPES and editors of all the areas of scientific knowledge held long discussions on this topic and came up with the suggestion of the Forum of the Areas Guidelines of the 12th National Meeting of Scientific Editors – 2009,which will be timely sent to all the Brazilian sponsoring agencies, which should be done periodically because this is a continuous process.